
Aventuras pela riviera Maia, México – PT2
Deixando as longas jornadas pela selva fora, os piratas e as chatices dos milhentos guias a tentar vender-nos os seus serviços partimos para a parte mais festiva e conhecida pelas suas praias paradisíacas, pois bem a Riviera Maia.

Assim recomeça esta grande epopeia latina, mas com uma última ida á selva, mais propriamente a uma visita ao parque arqueológico de Calakmul. Uma viagem que realmente desafiará qualquer um que possa passar mal a andar de carro, pois o caminho até ao seu centro interpretativo é algo atribulado e cheio de curvas e contracurvas, mas apesar desta montanha-russa de estrada podemos contar com aparecimento de perus selvagens (aparecendo em conjunto, todos majestosos e num tom de azul muito único e belíssimo) e com as belas placas de trânsito a avisar que pode haver jaguares por perto. Pois bem, sem medo chegamos ao centro interpretativo onde podemos contar com réplicas e maquetes da antiga cidade de Calakmul.



Descoberta em 1931, e com aproximadamente 70km2, embora já seja uma cidade imensa, ainda hoje se encontram escavações ativas pelo parque fora – e para referência com o que já está aberto ao público seriam precisas, no mínimo, 7h para dar uma volta completa ao parque. Voltando atrás… Mal começamos a desbravar pela selva fora até ao encontro com a primeira praça principal da antiga cidade, somos logo submersos num ambiente húmido, quente, verdejante onde ecoam os sons dos seus maiores residentes, os macacos uivantes. Assim que se chega á primeira praça principal somos logos recebidos com estruturas altas, largas, longas, algumas ainda coloridas e petróglifos ainda visíveis – realmente um esplendor, com a cereja no topo do bolo de não haver nem turistas nem locais a tentarem vender os seus serviços de guia (paraíso atrevo-me a dizer). É um local mágico e único, com a maior (e mais alta também) atração a estrutura 2, uma pirâmide com cerca de 60m que se pode subir, e bem que vista… Em meros minutos ficamos com uma visão 360 sobre toda a selva (onde recomendo a uma pausa em silêncio de 1 minuto para absorver todo o ambiente á vossa volta) – se as fronteiras entre países fossem linhas visíveis podia-se dizer que se vê a Guatemala e o Belize de tão alto que se está.




Mais perto do mar, mas ainda com alguns quilómetros pela frente temos a famosa cidade de Bacalar. Embora á primeira vista deixe qualquer um confuso com o porquê de esta cidade andar de boca a boca, devido às suas longas fachadas citadinas (ora de hotéis, ora de restaurantes, a sua bela, a joia desta cidade encontra-se para lá desta fachada. Um lago tão longo mais parecendo um mar autêntico, mas caracterizado pelos tons da sua água cristalina. Assim se apresenta o famoso lago dos 7 tons de azul de Bacalar com a sua doce água sempre quente, ora rasa, ora profunda, ora com cenotes, com ilhas,… bem temos de tudo é um facto, e nada como alugar uma canoa e deixar-nos encantar pelo seu esplendor. Sei que as fotos não farão justiça a esta obra de arte da natureza, mas farei o meu melhor para deixar uma ideia.




Creio não falar só por mim, mas quando oiço alguém falar acerca da riviera maia e da península do Yucatão a primeira coisa que me vêm á mente são resorts, e realmente é verdade, a costa está infetada com eles e com parques aquáticos. E é assim que chegamos a Tulum. Uma cidade realmente curiosa e que pode ser bem divida em áreas de interesse: cidade de Tulum, zona hoteleira, zona arqueológica e cenotes. Num imenso contraste entre uma cidade pacata e com um nível de vida mediana, encontramos uma zona hoteleira completamente luxuosa e cheia de ostentação – parecendo haver uma competição para ver quem tem a entrada mais criativa e grandiosa. Mas, quando tudo parece ser bom demais para ser verdade, pois por norma é porque o é, e o grande “escândalo” desta zona hoteleira é que não há uma rede elétrica que passe por esta zona. Simplesmente o que acontece é que todos os hotéis possuem o seu próprio gerador. E em relação á rua? Abençoados os taxistas e militares que passam pela rua iluminando-nos momentaneamente o nosso percurso (os militares com os seus vermelhos e azuis até transformavam a rua numa rave). Obviamente que este percalço é facilmente posto de lado aquando passeamos pela bela praia de areia branca (tipo farinha) e água quente, azul e limpa, ou seja, simplesmente perfeita.



Agora sim, o último parque arqueológico desta epopeia, o relaxado, fresco e caribenho parque arqueológico de Tulum (traduzido como muro/muralha). Embora sendo o mais pequeno e simples é o único que realmente aparenta ser algo tropical, com as suas palmeiras, espaços abertos, brisa do mar, sons das ondas, gaivotas e uma vista incrível para o mar adentro. É na orla da sua falésia ao olhar para a linha do horizonte que nos sentimos na pele dos maias e imaginamos a estar a ser primeiramente observados pelos espanhóis e depois conquistados por eles – há deveras muito espaço para imaginação. No geral é um espaço realmente pacato e onde perdemos a noção do tempo graças á milagrosa corrente de ar do mar.




Assim como se visitou o último parque arqueológico, também nos despedimos dos refrescantes cenotes, mais especificamente com a visita aos cenotes “Dos Ojos” e “Gran cenote”. Tenho que admitir que melhor despedida não seria possível. Em ambos podemos contar com uma água embora “refrescante” limpa e incrivelmente azul, onde os pássaros procuram refúgio e acabam por criar os seus ninhos, no cenote “Dos Ojos” pode-se inclusive praticar mergulho de botija começando num dos “ojos” e acabar noutro, enquanto nós meros mortais teremos que caminhar uns metros para visitar ambos os cenotes.



O meu favorito foi o “Gran cenote” que começa logo por incluir equipamento de snorkling no preço (enquanto no “Dos Ojos” temos que pagar á parte), já nos levando a pensar no que será que aí vem. Ora bem, embora ao parecer um espaço pequeno no início é aí que nos apercebemos do porquê do equipamento de snorkling, pois bem WOW!! Vê-se o fundo todo, cada detalhe, cada pedra, cada peixe, tudo e mais alguma coisa, e ao continuar-mos a nadar é que nos apercebemos que há bem mais para ver e explorar, onde ao parecer que em 5 minutos estaríamos despachados na realidade leva certa de 20 minutos a dar-se uma volta completa ao cenote. Assim que passamos por um túnel que liga as duas partes descobertas do cenote captamos um som incomum, algo parecido com um guincho, logo, não podem ser os pássaros que pairam por cima de nós, mas sim morcegos! Sim, morcegos! Eles não se aproximam das pessoas e estão na neles a relaxar, mas é realmente impressionante passar por eles assim tão de perto.



- Em ambos os cenotes podem contar com cacifos para guardar os vossos valores.
Tanto passeio e pouca festa… realmente nem parecem férias na riviera maia, até que no horizonte nos deparamos com Playa del Carmen. Embora viva, quase, exclusivamente dos mega-iates que atracam diariamente no seu porto, é uma cidade puramente capitalista e consumista desde os hotéis á beira-mar até aos milhentos restaurantes e lojas pelas suas ruas fora. Sendo de noite que revela as suas verdadeiras cores, com as suas ruas cheias de bares e discotecas até se perder de vista, cada um rivalizando ora com o seu vizinho do lado, ora com o da rua acima. É posto todo um show com raparigas a dançar em palcos e/ou em jaulas para atrair mais clientela, lasers verdes são apontados para nós para nos guiar até a um bar, confettis, bandeiras, … é um exemplo perfeito do “vale tudo”. Felizmente a música é toda por norma toda muito boa e enérgica sendo fácil dançar até ao nascer do dia. Deixo aqui alguns vídeos e fotos para dar uma melhor ideia desta impressionante realidade.
Com as pernas ainda fracas de tanto perreo e a cabeça zonza com tanto álcool, prosseguimos para recuperar na ilha de Cozumel. Com um belo dia, água calma e limpa nada como uma bela viagem de ferry para começar a descansar o corpo e a mente. Devido às variações de profundidade do mar que rodeia Cozumel temos de novo diversos tons de água sendo, para mim, o meio termo quando vemos a água realmente turquesa.



Curiosamente a ilha de Cozumel era uma espécie de Meca maia, sendo a deusa Ixchel (natalidade e lua) a mais adorada ditando as boas práticas que todas as mulheres deveriam ir a Cozumel adorar Ixchel pelo menos uma vez na sua vida. Obviamente que nos dias de hoje a realidade desta ilha é outra por completo, sendo somente focada no turismo e de como “extorquir” dinheiro aos turistas. Quando se chega a Cozumel ficamos logo com uma falsa ideia de que a ilha é apenas composta ora por beach clubs (praias concessionadas) ora por resorts/hotéis, pois toda a sua costa oeste apenas oferece isso, logo, uma pessoa acaba por ficar no seu hotel, mas não são hotéis simples, estes têm de tudo até á sua própria praia e apontam todos para o pôr-do-sol sobre o continente – e realmente um pôr-do-sol tirado de um filme ou mesmo parecendo uma foto antiga de polaroid.



Infelizmente é uma ilha que pensa mais nos milhares de turistas que apenas por algumas horas saem dos seus mega-iates e inundam as ruas de Cozumel, em vez dos seus habitantes. Sendo estes últimos levados (provavelmente ao longos dos anos) para o interior da ilha tendo que coabitar num ambiente praticamente dominado pela selva e, como se não fosse suficiente estes ao quererem se banhar no mar e refrescar dirigir-se-ão mais para a costa este sendo a mais perigosa, pois é a única que não se paga.



E pois claro, estando-se num destino tropical não poderia faltar a bela orquestra sinfónica da mãe natureza: onde os tambores a dar o ritmo se convertem em negras e carregadas nuvens cinzentas, os metais a abrir a melodia são representados por belos e luminosos relâmpagos, chegando-se ao maestro ao belo som dos instrumentos de corda cheios de paixão e sentimentos tal como a chuva forte que caía como se fosse um rio a cair dos céus, por fim, temos a bela ovação do público com uma pequena pausa da tempestade para ver mais um glorioso pôr-do-sol. Obviamente que tudo é muito bonito quando não temos que sair de casa, que tentar andar sobre esta chuva por Cozumel é toda uma aventura por si só onde quase que nos dá vontade de pedir uma canoa para percorrer as suas ruas, que em minutos mais se pareciam como pequenos riachos a desaguar no mar. Curioso o suficiente mesmo que a chuva pare e ainda haja alguma trovoada as embarcações de recreio retomam os seus tours como se nada fosse, pondo em causa a segurança dos seus tripulantes.
A calma antes da tempestade:

Em Cancun se iniciou esta belíssima epopeia latina, e é em Cancun que ela termina. Tal como Tulum aqui contamos com uma cidade comum a fazer fronteira com uma zona hoteleira ridiculamente luxuosa (mas com rede elétrica), bem-vindos a Cancun e aos seus megalómanos resorts. Sim, tudo o que se podem ver nas redes sociais em relação a Cancun é verdade, por um lado são só resorts estupidamente enormes e por outro é só bares extravagantes, mas felizmente até se sente uma boa segurança no geral. Todos estes resorts têm a sua própria praia (todas elas paradisíacas com areia branca como se fosse farinha, e água morna e cristalina como se fosse uma piscina), bares com todos e mais alguns cocktails e com um pôr-de-sol ridiculamente fantástico – percebe-se facilmente o porquê de milhares de pessoas passarem por esta zona do mundo todos os anos.



Ora, sendo uma zona repleta de turistas a competição entre restaurantes e bares\discotecas faz-se sentir. No que toca a restauração ou se opta por cozinhas diferentes e com restrições alimentares diferentes, ora se opta por dar show desde música ao vivo a uma espécie de encenações teatrais. Obviamente que optamos pelo segundo tipo de restauração e deixo aqui alguns vídeos para esclarecer possíveis dúvidas.
Em relação á vida nocturna é muito semelhante á que se pode experienciar em Playa del Carmen, mas com preços muito mais inflacionados – ficam aqui alguns vídeos e fotos.
Pois bem, com um dia de sobra nada como experienciar os famosos party catamaran que todos os tik tokers e influencers publicitam. Tendo o catamaran bem atestado com água, sumo, gelo bebidas espirituosas partimos para isla Mujeres. Um percurso marítimo surreal parecendo que estamos a planar pela água de tão limpa e turquesa que esta era, onde é possível ver-se tartarugas, raias e alguns peixes.

Chegamos assim a isla Mujeres, nome dado pelos conquistadores devido á descoberta de inúmeros artefactos de divindades femininas, que embora as sua vibe geral paradisíaca e praias surrealmente belas se assemelha muito a Cancun.



Já estando todos mais acordados a música começa a tocar e o mood no catamaran começa a ficar mais solto até que fazemos uma pausa estratégica no meio do mar para fazer snorkling. Por entre corais e fauna local avistamos belos seres aquáticos azuis, verdes, amarelos e alguns laranjas, ora sozinhos ora em grupo, mas incrivelmente sempre para a frene para trás como se fossem pessoas a ir e vir do trabalho. Uma visão realmente muito colorida e pacífica dando uma sensação de felicidade de vivermos num mundo tão diverso e cheio de vida.



Com os cocktails a saírem e a música no ar já se percebia a beleza deste tipo de tours, eles são realmente divertidos. E assim chegamos ao nosso destino, à isla Contoy – uma ilha agora declarada como parque nacional e protegida pelo estado mexicano de modo a proteger e manter a fauna e flora local. Assim que chegamos existe uma absoluta ausência de som e estruturas humanas (à parte do centro de interpretação da ilha claro) sendo recebidos pelos maiores habitantes locais, os pelicanos. Nesta imaculada ilha o equilíbrio entre seres vivos é algo palpável desde as inúmeras espécies de aves que habitam esta ilha, os ocasionais crocodilos que habitam no pântano localizado no centro da ilha, os imensos caranguejos ermitas que percorrem a ilha toda até aos peixes e estrelas-do-mar que se aventuram até á orla da praia. Isto tudo com a cereja no topo do bolo sendo estarmos presentes numa praia tão imaculada e bem cuidada que facilmente seria confundível com praias tanto nas Maldivas, Seychelles ou mesmo como na Polinésia Francesa.



E assim relaxados voltamos aos belos cocktails preparados pela nossa acolhedora tripulação e eis que a música começa a rolar, num ambiente puramente social e animado a tripulação presenteia-nos com as suas danças coreografadas e nos convida a juntarmo-nos a eles. Realmente um fim de dia e de férias bestial.
Basta-me agora agradecer a todas as pessoas que se cruzaram e nos ajudaram a tornar a nossa primeira visita ao continente americano ainda melhor do que poderia ser. Obrigado pelas dicas, pelas conversas, pelas gargalhadas e que os nossos caminhos se voltem a cruzar.
Gracias México, e até breve!


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